uma horinha de pesquisa na rede, sem nem passar da segunda página do buscador, já traz informação suficiente pra que se imagine que reputação tá muito mais na pauta das mulheres.
entre os empreendedores brasileiros, 57% são mulheres (sebrae - 2022) e dos profissionais freelancers no país, 70% são mulheres (plataforma closeer - 2021). a história a gente já conhece: pra muitas de nós o trabalho autônomo é a única opção diante de desemprego, necessidade de complemento de renda ou de alguma flexibilidade no horário/local de trabalho.
no minuto que a mulher se torna 'gestora da própria carreira' (leia-se: autônoma), pr'além de performar no seu melhor, cresce a responsabilidade de impactar o cliente/contratante de forma positiva. essa relação deixa de ser exclusivamente sobre uma entrega e passa a ser também sobre a qualidade das interações presenciais ou online, sobre a apresentação dessa mulher (em aparência e discurso) , sobre as referências, vivências e conexões que ela traz pro jogo - a decisão de (re)compra vai passar pela reputação.
não vamo passar pano pra problemática estrutural - o homem que diz que 'não liga pra isso' é porque se sustenta num vasto histórico de privilégios - mas acredito que existe um desenrolar que pode ser benéfico, ó: na medida em que a gente coloca atenção e intenção nas nossas posturas profissionais, crescem as chances de influenciar o entorno para que o 'código' não se sobreponha à identidade e o barulho externo não sufoque os nossos valores
a gente já dá conta das nossas entregas com muita qualidade. o reforço de que essa excelência ultrapassa a técnica e também se ampara em atributos femininos - como gentileza, cuidado, beleza, escuta, cooperação - é caminho pra que a nossa inteireza seja normalizada na corporação, na escola, na indústria.
depois de mais de dois anos muito exposta às ideias de negócios digitais e escaláveis, impactada diariamente pela publicidade de múltiplos dígitos, vendo crescer exponencialmente gurus internéticos de alta performance e promessas de se tornar uma girlboss em tempo record, sinto muita vontade de trabalhar reputação e posicionamento no pequeno, no grupo que tá perto, sem gritar.
tenho pensado na força (de vida) que a mulher dedica pra 'fazer o seu nome' quando, talvez, o sucesso tenha mais a ver com re-conhecimento: se apropriar das individualidades, ter abertura, co-criar ambientes seguros para que nossas pares façam o mesmo - e daí desfazer os estereótipos da dona-da-porra-toda, abrindo espaço de integridade no coletivo.
leio em voz alta,
desejando que o universo receba
e toda ansiedade causada pela lacração vazia
se transforme em serotonina
amém.