quando a gente é criança no interior, chegar em são paulo é bom sinal de que a praia tá por perto. por essa memória de felicidade eufórica tínhamos tudo para viver uma boa relação mas quando me mudei pra cá de mala e cuia, pela primeira vez, aos dezoito, eu detestei.
demorei mais de dois anos para descobrir que não gostava: do tamanho, do jeito que o tempo corre, do todo-mundo-desconhecido, das distâncias, da mania de beber cerveja. nunca soube dizer o que eu desgostava mais, a puc ou a cidade.
fui viver em portugal por uns meses e quando voltei - mais abastecida de outras gentes e já estagiando - descobri que eu adorava trabalhar e isso me fazia afrouxar um pouco os meus limites - comigo e com são paulo.
fui embora em 2009. vivi em Brasília (meu amor!), conheci um monte de países, casei-separei-casei, troquei apartamento por casa, empreendi, tive cachorro, mudei de carreira, fiz as pazes com Deus, voltei a viver no interior.
hoje é vinte e cinco de janeiro, são paulo, seu aniversário de 468 anos. há uma semana, quando te olhava da janela desse airbnb que me acolheu nos últimos meses, decidi que vou te experimentar mais uma vez, como casa.
sou resistente em dizer que essa é uma decisão definitiva, especialmente no país de bozonaro e no contexto desses últimos dois anos - que mais parecem um único ano que começou em 2020 e na verdade já dura dez anos de puro cansaço.
outra que sou, tenho experimentado com mais gosto o seu tamanho, o seu jeito de fazer o tempo correr, a liberdade de ser pequenina na cidade maior que muito país. apesar de caríssima (puxado hein, brasel!), você tem sido gentil em me (re)apresentar jeitos, lugares e gentes para seguir fazendo aquilo que mais gosto: comer, rezar, fazer crossfit, especialmente trabalhar e amar.
no coração tô carregando a família, bons amigos, a hateful e o café do abra. no mesmo coração tô te dando uma beira, são paulo. vem mansa pra eu poder te fluir suave.
apê mini. sofá-cama disponível. nunca tenho cerveja na geladeira.